Ateísmo positivo: Uma religião afirma coisas. O ateísmo, em geral, nega coisas. Ele não se define por valores próprios mas pela negação dos valores das religiões. Para que o ateísmo se torne positivo (ou afirmativo) é preciso mostrar que há vantagens em não se ter um deus e uma crença religiosa. De modo geral, a escolha certa é aquela que nos faz feliz ou, pelo menos, nos ajuda a enfrentar a vida. Uma religião pode não ter nenhuma base lógica mas adotá-la se justifica se seus efeitos em nossa vida são positivos. Religiões nos trazem esperança, nos convencem de que há justiça no universo. Seremos um dia recompensados pelo bem que fizermos e o mal será punido. A morte não é mais o fim, apenas a passagem para uma vida melhor. Por outro lado, religiões nos trazem o medo da punição, a culpa por termos feito ou deixado de fazer alguma coisa que, na verdade, não prejudica nem beneficia ninguém. Elas nos levam a nos humilharmos e nos autodesvalorizarmos diante de Deus. Exigem que paguemos por supostos pecados com penitências que em nada enriquecem a comunidade ou o próprio indivíduo. Geram intolerância e rejeição dos que têm outra fé, condenam as atitudes nos outros só porque contrariam o que está no “livro sagrado” etc. Até que ponto é preciso se ater ao que está escrito sem se tornar um fundamentalista? A doutrina é confusa e há muitos modos de interpretá-la. É louvável e meritório ser virtuoso apenas por medo do inferno? Qual religião é a verdadeira, entre tantas? A fé nos leva a agir sem pensar, a seguir dogmas sem discutir sua validade. Precisamos da razão e da dúvida constante para limitar nossos erros, para questionarmos constantemente nossas decisões. Ateus não seguem dogmas. Procuram pensar com a própria cabeça e fazer o que lhes parece certo, porque é certo e não porque “está escrito”, nem porque esperam uma recompensa em outra vida ou têm medo do inferno. Embora tenham defeitos como todo ser humano, estão livres para ser mais tolerantes em relação ao que os outros pensam, porque acham que opinião própria é o direito de cada um. Eles não têm uma religião que lhes diga, a priori e sem justificativas, o que aceitar ou não. Não têm nenhum motivo, além de possíveis razões pessoais, para discriminar mulheres ou homossexuais. Podem se dedicar mais a melhorar este mundo, o único que eles conhecem, em lugar de apenas esperar pela hora de ir para o céu, sem o conformismo de aceitar que “as coisas são assim mesmo” ou “é a vontade de Deus”. Não desperdiçam a vida em orações improdutivas fechados em um convento. Um ateu não se vê como um joguete na luta entre Deus e o Diabo pela sua alma; ele é o único responsável pelos seus atos. Ele tem toda a culpa pelos seus erros e todo o mérito pelos seus acertos. Religiões oferecem respostas a todas as dúvidas e regras de conduta para qualquer ocasião. Ateus têm que pensar com a própria cabeça e tirar suas próprias conclusões, o que os ajuda a refletir melhor e mais profundamente antes de decidir. Respostas simplistas levam a mentes simplistas mas, é claro, muitos preferem a segurança de um dogma à incerteza de uma busca por respostas. É por isto que não se deve tentar ”desconverter” as pessoas. Quando e se elas estiverem prontas, irão procurar respostas fora de sua religião. Pessoas religiosas que preferem ignorar os mandamentos de seus “livros sagrados” que lhes parecem excessivos ou cruéis estão agindo como ateus, pensando com sua própria cabeça e seguindo sua razão, embora muitas vezes nem se dêem conta disto. Ateus devem se policiar, entretanto, para não repetir os erros das religiões. Devem respeitar as escolhas dos crentes, por mais obtusas que lhes pareçam. Quando instados a defender sua posição, destacar os aspectos positivos do ateísmo, como a liberdade de escolha e a racionalidade, evitando atacar os aspectos negativos desta ou daquela religião ou duvidar da inteligência do interlocutor. Sim, é possível ser um ateu militante. Pode até ser necessário, como forma de defender sua liberdade de expressão num mundo ameaçado pelo fundamentalismo. Mas é preciso levar em conta que uma postura agressiva só reforçará os estereótipos do “ateu revoltado e perverso”, do “ateu sem moral e sem limites”. Contra a fé, a razão nem sempre faz efeito. Comecemos confundindo os crentes, sendo o oposto daquilo que eles esperam de nós. Sejamos honestos, prestativos e respeitadores das leis. Aos poucos, e com cuidado para evitar a rejeição, procuremos despertar nos religiosos a consciência de que a “verdade” deles não é a única. Que é possível ser feliz e decente sem um deus. Que a crença em deuses não fez da humanidade um lugar melhor, talvez muito pelo contrário. Não é possível desconverter uma pessoa de fora para dentro, mas podemos torná-la mais tolerante. Fazê-la entender que há outros modos de pensar igualmente aceitáveis. Que a crença delas não é uma escolha óbvia e que ninguém se torna um pervertido, condenado ao inferno, por não adotá-la. Fazê-la entender que não é possível “rejeitar” um deus em que não se acredita. Nós temos orgulho da tolerância religiosa aqui estabelecida. Em nosso país, católicos, protestantes, judeus, mulçumanos, espíritas, ubamdistas, budistas, todos vivem em paz. Diferentemente de outros países onde a opção religiosa é motivo de segregação social e até guerras, aqui vivemos na mais profunda harmonia. Há uma ressalva a ser feita. A tolerância religiosa é válida, contanto que você professe alguma religião, como sabiamente expôs Leo Vines, criador da Sociedade da Terra Redonda. Negros, homossexuais, judeus, deficientes, nordestinos, mulheres enfim, cada grupo que outrora foi vítima de preconceito neste país conseguiu se fazer respeitada, ou ao menos tolerada. Hoje em dia, não é aceito socialmente discriminar representantes de qualquer um destes grupos. As pessoas que insistem no preconceito são socialmente mal vistas. Em alguns casos são até processadas e eventualmente condenadas. O último preconceito socialmente aceito é justamente o preconceito com os ateus. Pode-se discriminar, fazer chacotas, mostrar repulsa ou constranger. Sendo contra ateus ninguém vai lhe olhar torto por isso. O incrível é que mesmo pessoas supostamente inteligentes disseminam impunemente o preconceito contra ateus. Os ateus são vistos como pessoas malévolas e traiçoeiras e esses rótulos são propagados impunemente em qualquer grupo social. Brincadeiras, piadas infames e toda sorte de humilhação pública contra ateus é socialmente tolerada. Nós ateus, por outro lado, temos de ser respeitosos. Não podemos dizer pro amigo espírita o quanto achamos boba a idéia dele de acreditar em fantasmões ou reencarnações. Não dizemos o quanto nos parece ridículo alguém, mesmo depois de crescido, achar que tem superpoderes como vidência ou premonição. Ouvimos todas as bobagens que nos são ditas com aquele ar respeitoso e cordial. Não podemos dizer também pro amigo católico o quanto achamos hipócrita a sua religião, que essa coisa de um amiguinho imaginário no céu ouvindo as preces é tola e infantil, que essa coisa de santos, anjos, demônios e o raio que o parta não têm nada diferente de qualquer mitologia barata. Não passamos na cara se eles fazem o que não lhes é permitido pela sua religião e não se arrependem disso. Não rimos da cara de ninguém quando este dá um "graças a deus" ou quando ora numa situação difícil. Não descartamos a amizade de ninguém pela opção religiosa que essa pessoa professa e até admiramos sinceramente muitas pessoas que professam uma religião por quaisquer características suas, independente das convicções religiosas. Me oponho às idéias (e não renuncio isso), não às pessoas. Muitas vezes a relação entre ateus e religiosos é uma via de mão única em termos de respeito. Esta situação por vezes chega a ser cansativa e não nego que dá vontade de chutar o balde. Decidi reagir e não mais tolerar qualquer desrespeito. Continuarei respeitando os que me respeitam. Os que me agredirem, não esperem que eu sorria amarelo e ofereça a outra face tal como o cordeirinho crucificado deles.

Tati C.

 

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